sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Da Minha Língua Vê-se O Mar
















Frase de Vergílio Ferreira que sempre gostei de citar. Nela, a nossa forma de expressão reflecte o mar e as Descobertas, a passagem do Cabo Bojador, os velhos do Restelo e os que sonharam mais alto. Da minha língua vê-se aventura, a vida, os riscos e constrangimentos. Vê-se os vários povos que por aqui passaram e todos os que colonizámos. Vê-se as lágrimas das mulheres que ficaram, as saudades dos que partiram e a nostalgia que os envolveu como um manto de névoa. Para sempre. Da minha língua vê-se o mar, mas também as terras do interior. Os montes de Miguel Torga, as Terras do Demo de Aquilino Ribeiro, o Ribatejo que Almeida Garrett retratou e o Alentejo de Manuel Tiago. Vê-se o fado e o xaile preto. Mas vê-se também o Vira do Minho, o Corridinho do Algarve e o Bailinho da Madeira. Vê-se também as furnas e os chás açorianos, as mil e uma receitas de bacalhau, a ginginha e a aguardente, a tasca do senhor Manuel, a barbearia do senhor Chico e a dona Gertrudes que, como Deus, ainda costura certo por linhas tortas. Vê-se as aldeias de xisto, as mulheres e os homens do campo que despertam com o sol, às seis da manhã. Vê-se os suspiros fundos e os lamentos da alma: “Vai-se andando menina, vamos andando…”. Vê-se os “efe-erre-ás” das universidades, os anos de caloiro e as despedidas dos veteranos. Vê-se os doces conventuais e o azeite, a cerâmica, os bordados e a azulejaria. Vê-se a boa vontade em receber turistas e os idiomas que nos esforçamos por falar: “A la droite, and then to the left. É já ali, não há que enganar. “Mucho obrigado, volte sempre!”. Da minha língua vê-se o mar, os rios e as barragens. Da minha língua vê-se Portugal!


adaptado Ana Catarina Pereira

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